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sexta-feira, 11 de março de 2011

A minha versão do exílio

A minha terra já não tem palmeiras, pois a intensa verticalização e inchaço horizontal das cidades não mais as comportam. Os únicos pássaros que cantam por essas bandas são àqueles brinquedos dos vendedores ambulantes pelas 25 de Março; antigamente um pequeno remanescente de pardais ainda pairava pelas copas das minguadas árvores do canteiro central, hoje em dia nem isso mais.

O colapso ambiental em que adentramos o século XXI é apenas sinal claro das conseqüências vindouras. As gerações atuais já não sabem o que é um ar com alto teor de oxigênio sem antes de inalar algumas toneladas de partículas de carbono produzidas pelos maquinários.


Os processos climáticos em geral demonstram tantas irregularidades que as previsões do tempo dos jornais de televisão são quase um espaço de profecia climática; chega a soar engraçado e irônico, no entanto, é trágico.

Lembro-me com certa intranqüilidade de uma crônica de Adauto Novaes quando este fala sobre um dia quente na cidade do Rio de janeiro, onde a temperatura sobe à escala dos 60 graus Celsius – quase impensável – ao meio-dia, e pessoas loucas correndo à procura de sombras, piscinas, praias e lojas para comprar ventiladores e ar-condicionado. Não quero viver para ver tal cena.
Mas é bem provável que, pelos estudos mais pessimistas, algum dia a vida na terra chegará a ser insuportável.

Certamente, minha terra já não tem tantos manjares, oásis, pássaros livres, e outras delícias naturais, pois o exílio do mundo artificial criado pelo homem não mais permite essa divagação, a não ser por meio da tão utópica licença poética.

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