Para quem não tem medo de pensar...

quarta-feira, 24 de março de 2010

Brasil: a história de um feminismo fracassado 2

O contexto histórico dos anos de 1960 foram sem dúvida o mais efervescente das décadas do século XX. Movimentos sociais de pacíficos usuários de alucinógenos pregando paz, amor e muito “rock and roll” nos campos de Woodstock; dos sutiãs e protestos de mulheres cansadas do patriarcalismo da religião cristã e da subordinação ao qual foram “predestinadas” por Deus. Estes são apenas dois dos grandes movimentos de crítica e contestação do status quo cujas proporções e efeitos foram alucinantes. O berço dessas revoluções: Estados Unidos e Europa. Desses dois centros importantes de influência econômica e política do ocidente idéias de igualdade de sexos e paz nos campos de guerra foram se espalharam por toda a parte do mundo sob influência desses dois centros, inclusive no Brasil. logo não demoraram em surgir nos centros das grandes cidades brasileiras e no meio acadêmico, pequenos grupos – tribos se quiserem – partidários dos hippies e das feministas, em especial deste último grupo.


As feministas obtiveram conquistas importantes no campo da igualdade de direitos em relação aos homens. Direto ao voto, de controlarem a maternidade com uso de pílulas anticoncepcionais, de trabalharem fora de casa e de terem salários iguais aos dos homens, de terem o direito ao orgasmo e escolherem quantos parceiros se assim desejar e até de utilizarem expressões femininas antes das masculinas nas conversações. Enfim,foram muitas conquistas, políticas e engajados, ou melhor, engajadas.


Obviamente um movimento de contestação mundial não passaria em branco no Brasil. Aos poucos as mulheres obtiveram “voz” dentro do cotidiano nacional. O ponto culminante, talvez, seja a Constituição Federal de 1988 que institui expressamente a igualdade formal jurídica entre homens e mulheres, conforme Art. 5º, I “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”.
Contudo, no mundo real algumas mulheres admitem não haver conquistados determinadas igualdades. Por exemplo, mulheres afirmam não haver mais razões para sustentar diferenças em relação aos homens, mas em determinadas ocasiões são as primeiras a acharem “romântico” o homem pagar toda conta do jantar da noite. Portanto, não admita ser feminista minha cara leitora se ao mesmo tempo você argumenta ser romântico o outrem pagar suas despesas. Afinal de contas, a igualdade da qual nossas avós lutaram não se restringiam apenas ao direito de trabalharem foram de casa. É contraditório alguém afirmar ser feminista se ao mesmo tempo se utiliza de argumentos ainda do tipo, “mulher é romântica e gosta de coisas românticas” ou ainda, “os homens devem ser cavalheiros por que isto também é romântico”, ou também, “somos de natureza frágil e, portanto, devemos ser tratadas como tais”. Por favor, ou assumem o feminismo em sua totalidade ou não assumem, do contrário, o movimento feminista não passará de um movimento de conquista de benesses, e exclusão dos deveres.

Vivemos em um mundo que reflete as conquistas do movimento dos “anos rebeldes”, como já dissera anteriormente. Porém muitas mulheres desconhecem a proposta filosófica por trás do feminismo. As mulheres angariaram o direito de “transarem” com quem ela desejasse, e da forma que bem ela quisesse, porém, não tem o mesmo direito de querer eliminar a vida de um nascituro fruto de sua conduta. É neste sentido que o feminismo se mostra fracassado. As avós lutaram pela liberdade sexual, as netas lutam para regularizarem o homicídio de um ser em potencial. Que mundo é este no qual os limites impostos pelas moral secular e religiosa também são tolhidos por movimentos compostos por pessoas que em sua maioria não se prestam para refletirem nas consequências de suas ideais???

Para tanto, não precisamos aqui lembrá-los sobre "avanços" do movimento feminista e suas repercussões no que tange ao processo de legalização do Aborto. Me parece que, à partir da possibilidade legal de liberalidade do aborto sem restrições retrocederemos no tempo e espaço ao estado de insegurança e Barbárie.Da mesma forma que a primeira geração de direitos fundamentais fora instituída para defesa dos direitos individuais, a humanidade, em seu compasso se encarregará para revogá-los. Afinal de contas "não aceitamos verdades absolutas vindas de fontes não passíveis de verificação como as verdades reveladas do cristianismo" - dizem alguns homens e mulheres em delírio - por isso, essa constante mutabilidade das instituições e das normas que regem a sociedade; aliás a caracaterística marcante da pós-modernidade (este tempo no qual vivemos) é a LIQUIDEZ, A FLUIDEZ.

Por fim, o feminismo é na verdade uma vertente sutil desmembrada desta visão ateísta de mundo. A eleminaçao de Deus foi na verdade a razão do fracasso da humanidade.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Brasil: a história de um feminismo fracassado.

O Brasil é um país de qualidades historicamente reconhecidas e exaltadas por seus poetas, compositores e escritores. Desde os ufanismos exacerbados de Gonçalves Dias no qual "nossa terra tem mais vida, nossa vida mais amores", e ainda, "a nossa terra tem palmeiras onde canta o sabiá" até as letras quase indecifráveis do compositor do hino nacional e suas pedantes construções líricas de "gigante pela própria natureza, és belo és forte impávido colosso", enfim. O país é lindo, "tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza..."

Certamente, um país de adjetivos inesgotáveis. Porém, neste meu país há outras características pelas quais não sei se devo chamá-las exatamente de qualidades no sentido positivo, louvável da expressão "qualidade". Claro que tais características não constituem juízos generalizáveis da realidade, mas são fatos do cotidiano gritantes dos quais até falsos intelectuais como Pedro Bial são condescendentes.

Por exemplo, no Brasil a qualidade máxima de apreciação pelo gosto popular masculino em relação ao sexo oposto é a bunda - uma parte corporal objeto de música, poesia, filmes e até programas de reality show na rede globo. Sua forma arredondada marcada por calças justas é a maior "arma" que certos humanos infelizes possuem. Em alguns programas de televisão aberta no Brasil a "qualidade" da bunda feminina na verdade é a atração principal. Mulheres sem bunda? Alguém pergunta; só mesmo as "gringas". Por que na TV todos pagam e gastam seu tempo para olharem "sarados e gostosas" no ar a desfilarem suas farturas. Mas qual seria a fórmula genética de sucesso por trás das formas arrendodas inspiradoras do calçadão de Ipanema? Poucos estudiosos arriscam afirmar que tal sucesso advém das misturas étnicas processads ao longo dos anos de exploração e povoamente das terras brasileiras. Mistura de índio, branco, negro - mais precisamente. A bunda é objeto de altar e até de publicações científicas; para tal basta dar uma parada nas bancas de jornais de esquina. Mas qual seria então a razão por trás de tanta religiosidade sobre uma parte coporal feminina? Seria esta obssessão o desejo pelas formas puras do qual falam os filósofos gregos?


Neste meu país, se a mulher tiver uma bunda apreciável tem grandes chances de acender na carreira profissional e ter salários próximos do que ganham os grandes executivos.
Seria neste background ou nesta "ética" do cotidiano brasileiro que o conceito de pecado é desconhecido. Inspirado por este contexto marcamente anti-puritano e machista que "não existe pecado ao sul do equador" uma sociedade sem freios e sem crítica que possui como propaganda e publicidade típica um pedaço de carne humana avantajada no qual sua função orgânica funcional no corpo humano meramente é a eliminação de dejetos não aproveitáveis pelo organismo.

O tropicalismo do clima quente de seus 40º graus Celsius e de 8 km de costa praiana também contribuem para este ETHOS brasileiro. Não à toa que Brasil - na perspectiva de antropólogos brasileiros respeitados no meio acadêmico internacional é um país de "malandros e carnavais". Por isso, não exite pecado ao sul do equador - sendo mais justo e claro,na verdade não existe pecado no Brasil das bundas. Brasileiros, em sua massa, não tem capacidade de distinguir o vulgar do não vulgar, daí a vulgarização - aliás, vulgar no Brasil é assumir pubicamente que você não assite ao Big Brother Brasil. O pior que o ponto culminante deste espiritualismo "bundista" brasileiro está na condescendencia e aceitação tácita e expressa de determinadas mulheres. Mulheres estas filhas das mães dos movimentos revolucionários feministas
do final da década de 1960. Em função disto é que no Brasil o feminismo foi fadado ao fracasso. As próprias mulheres (FRISA-SE CLARO, ALGUMAS SOMENTE)são as primeiras a destacarem suas "qualidades", seja nos programas de televisão ou nas revistas.

Portanto, preste atenção ou tome cuidado ao referi-se às qualidades femininas; pode ser que ao expressar deste modo alguns vão traduzir a expressão "qualidade" para o termo "bunda".
Pergunto para os meus leitores e minhas leitoras então onde foi parar os avanços e conquistas do movimento feminista no Brasil? Jà que tudo acaba em "bunda" - e prefiro assim utilizar este termo por que do contrário poucos brasileiros me entenderiam.
É preciso rever os conceitos deste movimento e suas peculiaridades dentro do cotidiano brasileiro; como já expressa uma letra de canção não muito popular: "nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda..."

sexta-feira, 5 de março de 2010

Lições de patriotismo na "ditadura" lulista

Antes de dissertar quero esclarecer que nada tenho contra a pessoa do presidente da república. Apenas procuro refletir sobre as quantas andam a consciência política de um país recentemente na história democrático. São pouco mais de 20 anos de constituição de Estado democrático de direito e o povo brasileiro e o que parece e denota no cotidiano é que o ranço ditatorial segue o rastro e o cheiro desagradável dos famosos “anos de chumbo”. Somos os únicos países dentre as democracias ocidentais que tem o voto como obrigatório. A desculpa ou a justificativa da obrigatoriedade do voto está exatamente na imaturidade de uma democracia jovem, recentemente pós adolescência cujas ações ainda precisam ser direcionadas por maduros.
Para àqueles nascidos em anos de transição da ditadura para a democracia, como eu, por exemplo, não possui experiência de vida, apenas experiência dos livros e dos jornais da época e, portanto, não deve se lembrar do autoritarismo que a ditadura e os militares inspiravam no Brasil. Uma das grandes marcas de governo autoritários é a pretensa confiança da massa populacional na figura centralizada de um governante imbuído de discursos patrióticos e comitivas pomposas. As propagandas midiáticas tornam-se ferramentas indispensáveis ao direcionamento desta massa. Hoje ao visitar um local cuja presença do presidente era aguardada me deparei com uma cena grotesca. Ao comprar um sorvete de um vendedor ambulante, cuja preocupação maior nem era a venda, fiz um comentário sobre a visita do Ilustre Chefe de Estado, no mesmo instante o simples e matuto vendedor me responde com ares de pai respondendo a um filho rebelde: “ele é o chefe da nação!”. A lição fora curta e grossa. Inclusive a ênfase de sua colação extrapola os recursos lingüísticos de que no momento a linguagem escrita me nega. Como sabemos lições nem sempre foram feitas para serem cumpridas, afinal de contas não somos autômatos – nem todos obviamente – e instantaneamente impugnei sua colocação cegamente apaixonada.
Respeito pessoal não está ligada à consciência política. Muitos brasileiros ainda pensam a figura do presidente como a de um pai. Em outros tempos remotos chamaram Vargas de “o pai dos pobres”. E o paternalismo continua dentro do consciente coletivo da política tupiniquim. Quando aquele simples senhor me responde daquele modo no fundo na verdade ele queria assim dizer: “respeite o presidente, ele é o pai da nação”.

A última liberdade

Ao longo das eras a história da humanidade vem sendo marcado por estágios de conquista da liberdade. No campo da filosofia, na religião, na política, no seio família, o desejo e instinto por autonomia ou pelo simples satisfação de se sentir no controle das decisões vários homens e mulheres se destacaram a ponto de sacrificarem suas próprias vidas em nome de ideais de liberdade.
Pela liberdade religiosa, por exemplo, Martinho Lutero publica no século XVI as 95 teses de Westiminster e assim demarca o início da reforma protestante, cuja principal conseqüência foi a liberdade e autonomia do ser humano em ler e examinar livremente o Texto Sagrado sem proibições e agravos de uma Instituição religiosa.
Em nome da liberdade individual em face do Poder Absoluto do Estado Moderno prefigurado na pessoa do Rei vários intelectuais arriscaram ser caçados pelo Index Católico ao publicar obras cujas teorias desafiavam a autoridade do governante poderoso trazendo novas perspectivas. Alguns chegaram a dizer que o poder do soberano precisava ser limitado em face da liberdade do indivíduo.
Em nome da liberdade de fato, negros trazidos como escravos pelo sistema escravista colonial ao Brasil criaram refúgios – os quilombos – para assim fundarem uma sociedade de sujeitos livres e distantes dos castigos e crueldade dos senhores de engenho.
Por suas ideais contundentes e firmes sobre o fim do preconceito racial nos Estados Unidos Martin Luther King é assassinado.
Deste modo, durante vários séculos a humanidade vem lutando por liberdade em diversos aspectos da vida. Contudo, há um ultimo estágio para a humanidade atingir a liberdade plena. Por acaso temos nós os poderes nas mãos de escolherem onde, quando, em que país, lugar ou genitores nos darão à luz antes mesmo de termos consciência de que estamos vivos? Até presente momento nem os cientista mais loucos e renomados possuem alguma resposta matematicamente correta para os segredos mais obscuros da Razão. O homem jamais atingirá o poder total ou a liberdade plena de decidir mesmo pela vida antes de ter vida. Apenas os ciborgues – misturas de orgânicos e componentes mecânicos de vida artificial poderiam desafiar as leis básicas da física e da natureza sobre o corpo humano ao eliminar as sensibilidades próprias de um sistema nervoso totalmente orgânico como o nosso. Por enquanto nos conformemos com realidade dura da efemeridade da vida humana.

quarta-feira, 3 de março de 2010

O Contrato Original: algumas preliminares

O contrato e as Escrituras Sagradas, e outras reflexões.

A sociedade moderna teve como arcabouço filosófico em sua fundação a teoria do Contrato Social. Conforme esta os homens viviam sem lei alguma, instituição ou norma que previsse ou regulasse o comportamento de modo que cada uma agia conforme seus próprios costumes e hábitos de forma desorganizada e livre, porém insegura e repleta de instabilidade. E para superar este estado chamado de selvagem que, segundo alguns autores como o inglês Hobbes, por exemplo, os homens viviam em uma constante luta de todos contra todos onde o homem era lobo do próprio homem e, mais, no estado selvagem era a medida da força que se alcançava sucesso. Vários filósofos e pensadores por séculos partiram do ponto deste estado selvagem fictício no qual “era uma barbárie só” para justificarem a formação do poder político personificado na pessoa do soberano. Digo estado fictício porque o homem e a mulher, ao contrário do pressuposto contratualista de nascimento da sociedade moderna já nasceram sob um estado de pactos.
A humanidade, ao contrário do que pensam os contratualistas, já nascera em um estado complexo de pactos que já poderíamos considerá-lo como um estado contratualista. Deus ao terminar a sua obra criando a terra em sete dias cria a sua obra mais perfeita, completa e “conforme sua imagem e semelhança”. A terra já nascera perfeita e acabada com certo aspecto de maturidade, assim como o homem. Animais, vegetações rasteiras, grandes arvores frutíferas, rios era todo esse o inventário do paraíso criado por Deus e dado ao homem. Porém todos esses benefícios só poderiam estar subordinados ao homem se este cumprisse a primeira lei do ordenamento divino: “mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, por que no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Repare que Deus ao oferecer o Jardim ao Homem estabelece um encargo, algo que os civilistas chamam especificamente de cláusula de encargo.
Assim nasce a primeira grande lei do ordenamento do primeiro pacto estabelecido entre Deus e homem, de modo que antes mesmo de nascer a primeira comunidade humana Deus se encarrega de criá-los sob um estado normativo original. Obviamente o ateísmo científico não assume ou muito menos parte de um pressuposto no qual se admite a existência de Deus e ainda mais de uma relação especial entre Deus e criaturas sob a forma de pacto. Deste modo preferem criar ficções e meras hipóteses infundadas à incorrerem no risco de admitirem a existência de Deus e do primeiro contrato. Na verdade, conforme relata as Escrituras Sagradas a primeira noção de ordenança que se vê não se dá entre homens e homens, mas sim entre Deus e homem.
À partir destas reflexões poderíamos problematizar algumas situações. Sabe-se que um dos primeiros requisitos dos contratos em geral é o princípio do equilíbrio material entre as partes que celebram o contrato. Equilíbrio material é expressão que se aproxima de igualdade. Para que duas ou mais pessoas estabelecem um pacto é necessário haver certa igualdade entre as mesmas de modo a possibilitarem o cumprimento do contrato. Deus em sua soberania e providencia cria o homem tão semelhante e igual a Ele mesmo que o cria com eternidade. O homem, antes da queda, além de ter a faculdade de fazer escolhas para o bem e para mal com liberalidade possuía também a imortalidade divina. Após a queda ou a “quebra e rescisão do contrato” o homem perde não somente o direito de manter-se seguro e protegido no Jardim, mas também o livre arbítrio e a imortalidade divina. Pensar a humanidade à partir da quebra do primeiro contrato estabelecido entre Deus e homem é pensar que a decorrência lógica do estado atual da humanidade decorre necessariamente dos efeitos desta rescisão. Por liberalidade o homem preferiu fazer escolhas que desobedecessem as ordens expressas do contrato original, e seus efeitos reverberaram para todas as gerações à partir dos primeiros pais. Entendendo, deste modo ser uma ficção o estado selvagem elaborado pelos primeiros contratualistas a primeira tentativa de abolir Deus do primeiro grande pacto.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Daqui à 100 anos...

Homens e mulheres buscam durante a vida deixar algum legado, algum feito pelo qual serão lembrados pelas próximas gerações. Todo sem exceção seja de forma consciente ou inconsciente por sermos seres produtores de cultura deixamos algum tipo de herança para as gerações futuras. Criamos, inventamos e elaboramos constantemente música, poesias, casas, construções, pinturas, composições, máquinas, instrumentos domésticos, aparelhos de som, móveis, textos, livros, enfim. E toda essa criação e conhecimento adquirido ao longo dos tempos vão sendo acumulado e herdado pelas gerações posteriores. Claro que não compactuo com a visão evolucionista e linear do processo de conhecimento humano, por que tendemos a cair na ignorância e erro de interpretarmos o nosso conhecimento como sendo o mais perfeito, evoluído e acabado, e o das gerações passadas como sendo primitivo rudimentar e imperfeito. Mas de certo modo, pela lógica cultural e simplesmente pelo fato de que somos uma única espécie somos também herdeiros das descobertas, avanços e retrocessos da cultura anterior.
Digo retrocessos por que desde que o homo sapiens tornou-se o rei do planeta terra, dominando e subjugando os demais seres vivos, a lógica de sobrevivência da humanidade foi condicionada à exploração dos recursos naturais. Desde que os primeiros pais foram castigados e expulsos do paraíso a humanidade aprendeu a superar todas as fraquezas corporais à custa da predação desenfreada e inconseqüente do mundo natural. Criamos um mundo artificial dominado pelos recursos sacros da ciência e da razão humana. E essa herança certamente já está reverberando os seus efeitos sobre a Terra. Secas, aquecimentos, derretimento dos pólos, escassez dos recursos hídricos são apenas produtos visíveis desta lógica burra.
Penso que daqui à 100 ou 150 anos meus bisnetos e sua geração olharão para trás e dirão: “que tolos, como poderiam explorar tanto os recursos naturais à ponto de impedirem que todos vivam com qualidade?”.


Somente no ano de 2010 pelos menos três grandes eventos naturais causaram a devastação material e humana no mundo, dentre elas terremotos no sul do pacífico advindos do choque entre as placas tectônicas do Nazca e sul-americana, pelo menos até então são mais de 800 mortos – números oficiais publicados nas mídias principais.


Por enquanto ninguém faz nada efetivamente para distorcer a predação humana, somente alguns filmes hollywoodianos. Mas meus bisnetos saibam que há 150 anos um estudante universitário em tom quase apocalíptico avisou sobre os sérios riscos que a humanidade enfrentaria caso não revertesse esta lógica de exploração pela lógica da harmonia com o mundo natural. Como calvinista que sou dificilmente a humanidade mudará à tempo.

A vantagem dos Homens

Esta enfadonha ocupação, a de esquadrinhar tudo quanto sucede debaixo dos céus Deus deu aos homens.


Eclesiastes 3:19: "Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro, e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade”.

Por que tudo quanto acontece com os filhos dos homens, assim igual ocorre com os animais, ambos morrem, e todos respiram, logo a vantagem de um sobre o outro não existe, por que todos são insignificantes.
Da frase supracitada milhares de pessoas poderiam previamente emitir um juízo de valoração dizendo ser esta uma frase pessimista, cética, típica dos críticos e filósofos sem esperança; ou no mínimo acharem ser esta frase um tanto quanto melodramática própria de seres humanos depressivos. Não. Tal frase se trata de um versículo das Escrituras Sagradas que se encontra no livro dos Eclesiastes de autoria do maior filósofo bíblico: o rei Salomão.
Lendo à primeira vista variadas interpretações e significados podem ser extraídos desse texto do mesmo modo como quantas linguagens a humanidade desenvolveu para referir-se ao mesmo objeto. Assim como também a humanidade produz culturas distintas das outras. Não me preocupo, portanto com explicações menos irrefutáveis ou deduções mais adequadas, mas apenas com a repercussão do entendimento de que homens e animais em nada possuem vantagens sobre o outro. Claro que tal paralelo só se justifica ao lermos a próxima sentença do sábio rei, “todos vão para um lugar, todos foram feitos de pó, e todos voltarão ao pó”. Logo, entendemos ser a justificativa da comparação eclesiástica a morte como causa inevitável de homens e animais. Obviamente não foi uma generalização já que o mesmo sábio reconhece que aos homens, e não aos animais, foi dado o trabalhoso enfado de estudar e procurar entender tudo o que ocorre debaixo do sol. Reconheço que o sábio é utilitarista já que trata da inutilidade da vida humana, uma vez que esta está condicionada ao fenômeno da morte. Repare agora; entre homens e animais, àqueles são os únicos capazes de pensar sobre o seu próprio pensamento e conseqüentemente perderem tempo em discussões banais como esta que escrevo nesta crônica. Mas qual seria a razão de desenvolvermos linguagem, sons, palavras, enfim todo um sistema sofisticado de símbolos para comunicarmos para não brincarmos com ele? Pelos menos neste ponto, no qual fazemos das palavras sons carregados de informação , humor, sátira, ironia, cientificidade nos distanciamos dos animais. Com uma mesma expressão podemos dizer milhares de coisas, e com milhares de coisas podemos dizer apenas uma verdade!
Um maluco desses que inventam religião nada original dizia que a alma dos homens é superior a alma dos animais assim como a alma de Deus está distante da dos homens. É uma relação simétrica, percebem?