Mente Aberta

Para quem não tem medo de pensar...

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Reino de Deus e Reino dos Homens: um pequeno esboço de interpretação da relação entre o conceito de laicidade, poder e igreja a partir da história de Nabucodonosor.


O tema da laicidade é muito relevante para os dias atuais. Mas é importante explicar ao leitor quais são os tempos deste escritor. O presente ensaio foi pensado no contexto brasileiro dos primeiros anos da pandemia de Covid-19, mais precisamente no ano de 2021 e, para quem acompanha a política brasileira, o presente texto foi construído em um pano de fundo marcado pela relevância e participação decisiva do eleitorado evangélico nas eleições presidenciais de 2018.

Mesmo antes desse contexto, o eleitorado evangélico já mostrava seu protagonismo no congresso nacional com uma bancada composta por parlamentares que professavam a fé evangélica. Certamente essa presença evangélica no cenário político nacional está relacionada, a vários outros fatores, com o crescimento numérico desse grupo, conforme as últimas pesquisas realizadas pelo IBGE. Já os fins e os objetivos desse grupo na composição política nacional é um ponto de penumbra que foge da presente investigação. Vários são os interesses desse grupo que, diga-se de passagem, não é homogêneo. Desde imunidades e isenções tributárias aos templos das igrejas e, até mesmo, a obtenção de concessão de rádio e televisão, apenas para citarmos a título exemplificativo.

De todo modo, o que me interessa é saber até que ponto a participação de grupos confessos religiosos podem comprometer a laicidade do Estado. Os evangélicos que participam da política brasileira não desconhecem as palavras de Jesus Cristo que é recorrentemente citada em matéria de Estado e religião: "dá a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus" (Mateus, capítulo 22). Entretanto, me parece que os cristãos brasileiros estão mais interessados com os assuntos de César do que com os assuntos do reino de Deus.

Considerando que nosso Estado é Democrático e de Direito (o que quer dizer que somos regidos pelos princípios democráticos de voto popular, universal, periódico e prestação de contas dos governantes), o pluralismo e as divergências de interesses são estimulados, o que justifica o exercício de defesa dos interesses de determinados grupos. Portanto, em tese e, do ponto de vista do arranjo constitucional dos poderes constituídos, nada impede que o grupo religioso se organize e participe de conselhos decisórios e estruturas de poder. Mas é salutar que, numa democracia, o exercício do poder seja constantemente fiscalizado sob permanente vigilância por outros focos de poder (e com muito cuidado, haja vista a experiência nazi-fascista alemã da segunda guerra mundial).

Embora eu admita, em tese, a possibilidade de defesa dos interesses de grupos religiosos, as relações de poder exercidas com base em princípios sacros da religião poderão constituir-se em muros intransponíveis de moralismos, numa clara tensão à diversos outros interesses de segmentos de uma sociedade complexa. O político religioso, mais precisamente o político cristão evangélico, não se contenta em defender os interesses econômicos da instituição da qual participa, pois, na maioria dos seus discursos, a narrativa desses políticos é belicosa, recheada de jargões espiritualizados, inspiradas numa pretensa defesa da fé e justificados na suposta necessidade de apontarem os pecados da sociedade, pois entendem que essa é a responsabilidade que lhes cabem pelo ofício da igreja. Tais discursos entram em choque com interesses e estilos de vida de diversos grupos da sociedade, mas, parece que há uma predileção dos políticos cristão evangélicos em atacar os grupos das pessoas declaradas LGBTQIA+.

O modo de operação dos políticos religiosos, então, desafia um equacionamento das tensões na arena política. De um lado, tem-se a liberdade de pensamento e opinião e, por outro, a garantia da dignidade da pessoa humana a qual pode optar pelo modo de vida que lhe pareça mais feliz e adequado, conforme seu exclusivo julgamento. Nesse ponto, a presença religiosa na política, nesses termos expostos, não agrega à democracia.

Talvez já se adiantando para nos previnir dos problemas que a presença religiosa na política poderiam provocar, o Deus de Israel, conhecido e relevado como “Eu Sou o que Sou” (ou Iavé), nos dá amostra de que o poder político não deveria se imiscuir das questões espirituais, e vice-versa. Não se trata de negar o exercício da cidadania aos cristão, ou proibir que estes elejam políticos que representem os interesses da igreja. A história narrada no Livro de Daniel (antigo testamento), relacionada à figura de Nabucodonosor, rei da Babilônia, que sitiou Jerusalém, pode nos lançar luz acerca dessa problemática.

Nabucodonosor foi responsável por sitiar Jerusalém e, como chefe de Estado que era, semelhante a maioria dos líderes de seu tempo, mantinha uma relação promíscua com os deuses. Poderíamos dizer, talvez, que o rei era um governante tolerante, mas não por bondade explícita, mas por interesses de manutenção do poder.

Por exemplo, no livro de Daniel, no capítulo 2, narra-se o episódio em que Nabucodonosor se viu cercado de vários magos e astrólogos, de diversas religiões distintas, sobre os quais lançou-se a ordem de se interpretar um sonho tido pelo rei babilônico, sob pena de morte de todos esses sábios. O que me chama atenção é que a maioria dos intérpretes do texto bíblico desconsideram o contexto politeísta do rei da Babilônia, o que fica manifesto na relação que Nabucodonosor mantinha com magos de diversas matizes culturais.

Nabucodonosor é um exemplo clássico de líder político que se vale da manipulação da religião para seus propósitos de manutenção do poder. O rei babilônico não era um ser humano temente a quaisquer dos deuses dos magos aos quais constantemente recorria para conselhos e interpretações de sonhos. Pelo contrário, Nabucodonosor era um político pragmático que temia mais pelo exercício do seu poder do que pela fúria dos deuses.

Reforçando a tese ora discutida, é interessante destacar a reação de Nabucodonosor ao ver a manifestação da glória de Deus do refugiado Daniel. Daniel, ao lado de seus amigos Hananias, Misael e Azarias, era jovem dotado de sabedoria e conhecimento, versado na cultura hebraica, da qual Nabucodonosor tinha profundo interesse. Nabucodonosor, ao saber da interpretação do sonho que teve por Daniel, logo reconheceu a grandiosidade do Deus a quem Daniel servia, tendo dito: “certamente o vosso Deus é Deus dos deuses, e o Senhor dos reis e revelador de mistérios”. Logo, devido a essa manifestação de poder, Daniel foi beneficiado nas estruturas políticas babilônicas, tendo àquele nomeado este governador de toda a província.

Porém, Nabucodonosor não era um rei convertido ao Deus de Israel. Seus interesses eram eminentemente políticos. Tanto que, impressionado com a interpretação do sonho – no qual revelava a proeminência do seu reinado – Nabucodonosor deu logo de construir uma estátua em sua homenagem, revelando aqui a noção antiga do poder divino dos reis, tendo baixado decreto determinando que todos os súditos se prostrassem ao som da orquestra, sob pena de morte. Todavia, a narrativa bíblica diz que Daniel e seus amigos, fiéis ao Deus de Israel, não se prostram perante à estátua do Nabucodonosor, razão pela qual foram condenados ao fogo 7 (sete) vezes aumentado da fornalha ardente. Por milagre divino, Daniel e seus amigos foram salvos da fornalha, tendo o próprio rei babilônico presenciado um quarto ser com aspecto de anjo andando com Daniel e seus amigos dentro da fornalha tranquilamente. Naquela hora Nabucodonosor presenciou mais uma demonstração, desta vez ainda mais poderosa, do Deus Iavé.

E, claro, visando resguardar a integridade do seu reinado, Nabucodonosor logo determina um decreto pelo qual todo povo, língua e nação deveria se abster de proferir impróprios e blasfêmias contra Deus de Daniel, do contrário seriam condenados à destruição de suas casas.

Percebe-se que a todo instante Nabucodonosor mantinha estreitas relações de poder com as divindades não por temor reverencial ou devoção sincera, mas por motivos estratégicos e políticos. Interessante pontuar dessa história é o fato curioso narrado no livro do profeta Daniel em que Nabucodonosor se transforma em um animal irracional, vivendo no pasto como se fosse um boi, caindo orvalho sobre seu corpo, tendo-lhe crescido os pelos, assumindo uma forma horripilante de animal-homem. Essa transformação foi demonstração da ira de Deus de Daniel. Nabucodonosor volta ao entendimento depois e, desta vez, reconhece a amplitude da manifestação divina em face dos interesses políticos dos homens. O próprio rei babilônica profere, desta feita, não um decreto com claro intento político, mas um grito de reverência e louvor ao Deus de Israel, reconhecendo que seu reino é sempiterno (Daniel, capítulo 4, versículo 34). Essas palavras não são despretensiosas. Nabucodonosor, um rei pragmático e comprometido com as entranhas de sua exuberância regente, reconhece a existência do exercício de um reino espiritual, divinizado e, sobretudo, atemporal (sempiterno), representado na manifestação milagrosa do Deus de Daniel.

Na minha interpretação, a narrativa de Nabucodonosor é uma história que, além de enfatizar o tom monoteísta da cosmovisão judaica (na qual o Deus Israel seria o único digno de ser adorado), a mensagem laica é latente na relação como Deus se manifesta ao rei babilônico. Deus está preocupado na forma como sua criatura com Ele se relaciona, sendo que a experiência de Nabucodonosor é reveladora da clara distinção entre o reino de Deus e o reino dos homens. Isso não quer dizer que Deus está alheio aos governos, pois do contrário, não seria Ele Soberano. Ao lermos o texto do antigo testamento à luz dos evangelhos e das cartas paulíneas, notamos que o maior projeto do Deus (que antes era identificado tribalmente como Deus de Israel) é o de reconciliar a sua criatura com Ele, tornando-se, em Cristo, Deus para todos os povos, o que justifica, pois, a chamada nova aliança, abrangente e universal.

Inclusive, a interpretação que Jesus dá acerca da responsabilidade no pagamento de tributos ao poder constituído se coaduna com essa linha divisória entre religião e poder político.

A partir de então, a história da humanidade, sobretudo a estudada no mundo ocidental europeu, ora mantém forte proximidade entre poder e religião, ora demonstra ruptura e distanciamento desses sistemas, mostrando uma interminável e perigosa sanha religiosa com as estruturas de poder da sociedade.


segunda-feira, 15 de abril de 2013

DIÁRIO DE UM CONCURSANDO - O RETORNO

O diário de um concursando hoje tratará de algumas consequências e implicações oriundas desse tipo de vida.
Primeiro, falo um tipo de vida porque é um life style que concorre com outras tarefas diárias e próprias de um ser humano normal e comum, normalmente renegando-as ao segundo plano das prioridades.
Todos os concurseiros de plantão já sabem que quando se compromete verdadeiramente com um determinada vaga na Administração Pública é como uma empreendimento onde entramos com o capital humano e até recursos materiais como compra de livros, cursos preparatórios, etc. 
E como qualquer empresa, também corremos vários riscos, especificamente quando o negócio aparentemente não dá certo, ou seja, os resultados esperados não surgem e a vaga torna-se distante. 
Entretanto, ao contrário de uma empresa do ramo comercial, o estudo de concurso consegue ser mais exigente em termos de compromisso e persistência. 
Não temos dúvida que o verdadeiro concurseiro veste de fato a camisa de sua preparação. Porém, mais que um empresário, esse ser em debate deve ser treinado na arte da boa persistência.
Imagine-se agora, após contabilizar mais de 10 certames já feitos ao longo de sua vida, e nenhum resultado à frente, como fica a coragem para recomeçar outra possível fracasso?
Os donos de negócios no Brasil, em sua maioria, fecham a empresa nos primeiros encargos sociais e trabalhistas que aparecem nas contas do fechamento do mês.
Por isso que digo, se existe alguma categoria de ser humano que pode ensinar ao mundo acerca dessa preciosa arte da perseverança, trata-se do concurseiro.
Repare que esse é tão perseverante que insistimos com sua existência mesmo que a própria língua portuguesa, ou melhor, o vernáculo, não a tenha reconhecido. Na verdade "concurseiro" é mais um daqueles neologismos do momento.
Portanto, mantenhamos firmes e perseverantes, ainda que a nossa própria língua ou dicionários não nos dê qualquer crédito.
Claro que tanta enxurrada de livros sobre concursos, técnicas e segredos, faço desse pequeno texto apenas um modo de distrair a mente após outro certame não muito promissor, e sinceramente, não estou me importando se o mesmo vai atingir outras pessoas. 
Quase ia me esquecendo, uma consequência que você sofrer após uma prova de concurso público é insônia e vontade de escrever no meio da madrugada.



quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Por que falar do 09/11?

Embora o assunto pode estar bastante saturado, especialmente para os vestibulandos e concursando de plantão, lançarei luzes à algumas razões que considero importantes. Ou seja, por que o ataque do 11 de setembro às torres gêmeas, nos Estados Unidos da América, foi tão marcante para a história desse país e para o restante do mundo?

Em primeiro lugar, do ponto de vista da logística terrorista, o ataque às torres gêmeas nos EUA, contabilizando a morte em torno de 5 mil pessoas, e tendo por foco de ataque o centro financeiro do mundo ocidental (World Trade Center), foi marcante porque inaugurou um "terrorismo de novo estilo", demonstrando ao mundo as ambições globais dos terroristas, aliada ao modo violento e implacável de como o plano foi executado.

Em segundo lugar, considero marcante para a história mundial porque o ataque referido deu início a uma caçada oficial do império norte-americano aos suspeitos, desencadeando na adoção de medidas internas e externas de segurança intensas. Por medidas internas, os EUA reforçaram as fronteiras aumentando o monitoramento de pessoas que entravam e saíam de seu território. Já por medidas externas, o ataque do dia 11 de setembro resultou na invasão do Afeganistão, sob o pretexto de que o principal suspeito da ação terrorista era o afegão Osama Bin Laden (que só veio a ser pego no governo de Barack Obama, no início de 2012).

Em verdade, ao falarmos da história desse ataque, se deixarmos de citar esse nome estaremos comprometendo com os dados históricos, embora, não hajam indícios e provas materiais robustas para montar o nexo de causalidade entre o personagem citado e os ataques em debate. 

Em terceiro lugar, poderia o ataque do dia 11 de setembro ser ainda mais marcante caso fosse possível a comprovação da tese segundo a qual o referido ataque teria sido orquestrado não por um terrorista fundamentalista do oriente médio, mas sim pelo próprio governo norte-americano, para justificar sua retomada imperialista enquanto potência militar ocidental, guiada por motivos e interesses econômicos, na concepção dos adeptos à teoria da conspiração.

Agora, como expectador ocidental da tragédia narrada, a versão oficial histórica da qual podemos nos garrar é a de que, embora tenha sido abalada por crises econômicas nesses últimos anos ao adentrar em recessão, os EUA continuam sendo a principal potência mundial e suas ações ainda continuam sendo decisivas para a narração da história mundial. 

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

PARA MICHELE OLIVEIRA


     
EU TE AMO

LOVE YOU

AMO TE

LOVE U
.....


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O que está acontecendo com a música de Jorge Vercilo?




Essa crônica é uma visão crítica que atende a dois campos de interesse muito comuns: a música e a espiritualidade. Se você gosta de um ou de ambos, fique à vontade e deleite-se com essas elucubrações da mente.
A música é uma manifestação cultural muito rica, e talvez, a que mais pode explicar porque tantos seres comuns (humanos) encaram o mesmo dado da realidade por óticas variáveis. Existem povos que faziam suas próprias canções como fruto de suas vivências e contextos sociais, religiosos, políticos e econômicos. Um grande imperador da China já dizia que a nação é aquilo que ela escuta (imaginem então como é Brasil?!).
A música é, das artes, a que talvez mais deixe rastros na mente humana – estudos científicos já demonstraram as partes do cérebro que são fortemente marcadas ao som da música. Outros estudos também já atestaram como determinados sons afetam até a qualidade de vida de seres vivos como plantas e animais.
Mas o que proponho nessas reflexões é: até que ponto em nome da boa música é preciso escutar determinados artistas com suas letras apologéticas e intenções espirituais? Ou seja, sabendo que a música é um carro chefe para disseminar teorias, costumes, pensamentos, enfim, como separar a musicalidade das intenções “teológicas” dos seus autores?
Para quem conhece a música de Vercilo e o acompanha desde o seu primeiro disco sabe do que passo a escrever aqui.
Em discos passados, Vercilo cantava a respeito de aventuras amorosas, tais como “Monalisa”, “Que nem maré”, onde atingiu seu ponto alto na carreira. A musicalidade é indiscutível em termos de afinação, arranjos musicais e um timbre vocal reconhecível a megabytes de distância. Os críticos profissionais em muitas ocasiões já esbaldaram-se em elogios para se reportarem à música de Vercilo. Durante estudos e músicas da MPB que acompanhei, Vercilo era um nome sempre falado.
Acontece que de uns tempos para cá Vercilo fez a sua boa música uma plataforma de teorias e teses duvidosas. Na letra da música “Verdade Oculta” o mesmo diz de forma livre que “Se tudo é divino, tudo em Deus tem seu lugar”. Essa canção ainda faz alusão ao “deus menino nascido na Galiléia”, a quem o mesmo queria falar de Cristo Jesus – que na verdade é Deus com “D” maiúsculo, diga-se de passagem. E na mesma sentença iguala Cristo ao príncipe hindu, a um oxum, afrodite, e outras manifestações religiosas. 
É claro que do ponto de vista da manifestação artística, de fato todas essa sentenças têm o seu lugar, desde que se parta do pressuposto que a arte dos homens, distantes da graça de Cristo, é mero reflexo da decadência espiritual dos mesmos. Obviamente, em um Estado democrático de Direito onde a república é inspirada pela laicidade estatal, e pela liberdade de cultos e crenças, claro que não há nenhum erro em sua música, pois ele está simplesmente defendendo seu posicionamento religioso - que é pessoal.
Porém, o erro encontra-se na crítica indireta que suas letras sugerem. E como bom crítico e, embasado na liberdade de pensamento, sinto-me habilitado a tecer essas considerações, já que essa é a tarefa do Apolegeta Cristão: desembaraçar as vãs filosofias dos homens à luz das Escrituras.
Mais recentemente em seu último disco – Como diria Blavastky – o artista simplesmente faz referência a Helena Blavasty – uma russa do século XIX responsável por ser a mente pensante de uma corrente religiosa denominada Teosofia ou Sociedade Teosófica.
No estudo das religiões o nome disso é pan-religiosidade, ou para nós brasileiros mais comumente aceito como ECUMENISMO. A miscelânea religiosa é latente para os entendidos, mas sorrateira para os não esclarecidos. Muitos, inclusive eu, já passei pela música do Vercilo sem refletir na intenção dessas letras. Ocorre que nesses dois últimos trabalhos lançados, a defesa religiosa vem sendo escancarada em suas letras, o que me leva a deduzir com argumentos sólidos que o artista tem feito de sua música com outras intenções, não se limitando a fazer a boa música em si.
Essas considerações são apenas ensaios. Para quem muito já escutou suas letras e músicas, especialmente se for cristão, leve tais considerações mais a sério.
Saudades dos tempos em que os músicos faziam da música uma bela e simples expressão do artista sem pretensões anti-cristãs. Saudades dos tempos em que se cantava sobre a garoa fina que caia sobre a cidade, ou sobre o barquinho à vela rumando no mar, perdendo-se na metáfora poética do belo e do perigoso, ou até mesmo de um cara abandonado à praça da cidade chorando de dor pelo amor perdido. 





 







segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O Advogado Fiel




"Meus filhinhos, estas coisas eu vos escrevo para que não pequeis, todavia, se alguém pecar, temos um Advogado para o Pai, Jesus Cristo, o justo." (1 João 2: 1)


Era o primeiro dia de um novo amanhecer – uma nova era se quiser – e, por razões externas ao homem, era o único dia de um novo tempo não conhecido cronologicamente. Tratava-se do grande Dia do Julgamento Final, onde no grande Tribunal dos céus o veredicto era certo e determinado. Dois destinos se dispontavam para os que se encontram no banco dos réus: a danação ou gozo eternos.
Como em qualquer provimento jurisdicional conhecido, a sentença do Juiz era irrevogável, impositiva e irresistível, já que ninguém na história da humanidade foi capaz de afrontá-la. Mas, a respeito da Justiça Divina o ditato popular já reconhece: é infalível, ao contrário da justiça dos homens, mundialmente conhecida por suas mazelas, desamandos e erros.
A  grande Tribunal situava-se em um horizonte infinito, sem alcance ao olho humano. No Centro estava o Grande Julgador, Único. Conhecido por ser o Senhor do Universo, Criador de todas as coisas, Autoridade Máxima e Senhor de suas criaturas. Por tais prerrogativas e muitíssimas outras é que sua Magistratura se estabeleceu. Na verdade jamais houve igual ou semelhante a Ele. Ele é antes de todas as coisas.
Sua especialidade era simplesmente tudo. Nada escapa ao seu conhecimento e sabedoria acima de toda qualquer inteligência humana.
Em verdade, até a loucura d’Ele é mais sábia que a sabedoria sofismável e refutável dos gregos, dos cientistas da Nasa, dos nerds, dos homens em geral.
Junto da sua mesa o martelo e as provas cabais de condenação da humanidade: todos pecaram e infrigiram suas regras, desde o primeiro homem e a primeira mulher. Todos os réus, consoante consta da denúncia oferecida pelo parquet, foram acusados de desobedecerem as regras Divinas, embora jamais tivesse a livre escolha de já nascerem sob condenação. Todavia, já nasceram sob os efeitos da pena – nasceram com a tendência natural a se indisporem às ordenanças de Deus.
A cena era um mistério simultâneo de julgamento coletivo com aplicação individual da sentença: todos estavam sobre as mesmas condenações, mas nem todos foram absolvidos!
E porquê nem todos foram absolvidos? Como em um tribunal comum, o grande Vitorioso desse Grande Julgamento foi o Advogado! Ele foi totalmente decisivo para a absolvição.
De repente, após a leitura breve do histórico dos fatos da vida de cada um dos réus acompanhada de todas as provas, uma grande decepção e despero toma conta dos mesmos, pois não haviam elementos probantes que permitisse contraditório e ampla defesa. Na verdade, seria totalmente justo e perfeito que todos os réus fossem condenados tendo em vista o horroso histórico de condutas humanas rebeldes à Lei Divina.
Nesse instante, abre-se para o momento da Defesa propor suas alegações e argumentações em face dos absolvidos. Na mesma hora surge o Grande Advogado, conhecido por diversos nomes tais como: Príncipe da Paz, Maravilhoso Conselheiro, Pai da Eternidade, Filho de Deus, Salvador, dentre tantos outros. Sua obra foi impecável, foi o único capaz de ser Deus e homem ao mesmo tempo em toda a história!
Era visível a comoção e o despero generalizado que tomara conta de todos os réus, pois muitos deles não aceitaram sua Ajuda quando em tempo oportuno foram-lhes apresentada.
Na sequência, o Grande Advogado, Jesus Cristo, se coloca na tribuna e profere seu discurso: conforme as Sagrades Escrituras “sem derramamento de sangue inocente não há remissão de pecados. Aprouve então a Deus enviar seu Filho, encarnando-se como homem, assumindo as culpas e as condenações daqueles a quem o Pai o deu, para que por meio de seu sangue fossem comprados e redimidos, tornando-os Filhos de Deus.”
E enquanto brilhantemente sustentava sua oratória, demonstrava a todos os presentes no Grande Tribunal das provas de suas palavras. Todos então se espantavam ao ver em um grande telão armado as cenas do nascimento de Jesus, sua vida, seu ministério entre os discípulos, seu sofrimento, a via crucis, a morte e sua ressurreição ao exato terceiro dia e sua subida aos céus entre nuvens.
Muitos dos presentes não se conformavam com o que viam, já que muitos não deram crédito a tais fatos enquanto vivos.
Até que finalmente, como ato final de seu conjunto probatório Ele arregaça as mangas de sua longa Beca e mostra-lhes as mãos furadas. Era a cicatriz que atestava definitivamente a sua crucificação! Nesse instante, todos as pessoas ali, de todos os povos e línguas confessavam o Nome de Cristo, mas, infelizmente era tarde demais para muitas.
Pois, o Advogado Fiel abre-lhes um grande Livro contendo os Nomes dos réus absolvidos, pois a Ele foi dado a Chave mestra que o acessava (Apocalipse). E os nomes dos réus absolvidos estavam todos ali, inscritos desde a fundação do mundo. Ao fechar o livro e ler os nomes, o Grande Juiz decide por sentença de mérito e despacha em definitivo enviando os condenados ao fogo eterno, local preparado para o diabo e seus anjos. Ali haverá choro e ranger de dentes.
Os salvos (absolvidos), por sua vez, foram contemplados pela sentença absolvitória, cujo efeito foi a entrada triunfante às Mansões celestiais, situada em uma Grande Cidade, denominada de Nova Jerusalém. Sua ruas são feitas de ouro, seus passeios largos e os seus jardins inigualáveis. Nenhum olho ou entendimento humanos foi capaz de conhecer.
Todos os absolvidos adentraram aos grandes portais da Jerusalém Cesletial, cercado por coros de anjos em belíssima harmonia, proferindo sons inigualáveis e infinitamente precisos. Um grande canto universal se ecoara de todos os cantos, contendo unicamente Louvor e Honra a Jesus Cristo – o Advgoado Fiel.
E por toda a eternidade os absolvidos foram premiados com a eterna glória de viverem em companhia de seu Criador.










sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O sofrimento de Cristo e a teologia da prosperidade


Interessante que essa é uma crônica que já nasceu velha, pois sempre pensei a respeito do assunto, mas sempre fui covarde para escrevê-la.
O que passo a escrever trata-se de uma visão de mundo que não é a regra dos nossos dias, e falo isso com autoridade de quem já foi vítima dessa visão distorcida.
Ao abrir os jornais, revistas, televisão, internet e suas redes sociais, vê-se uma verdade enxurrada de notícias envolvendo questões religiosas, normalmente, só revelando as mazelas da Igreja - e falo de religiões cristãs de um modo geral, seja católicos ou protestantes, e até seitas. Se fosse adepto à Teoria da Conspiração diria que um gueto religioso especialista em manipulação de mídia estaria fomentando uma grande antipatia ao cristianismo no geral ao lançar essas informações desmoralizadoras. Sinceramente falando, creio que eu sou um dos maiores responsáveis por uma Igreja sem poder e autoridade no Espírito Santo, reconheço minha parcela de culpa. Mas no momento essa não é a questão.
Enfim, todos os dias temos "crentes" envolvidos em questões polêmicas e embaraços midiáticos, e a maioria deles quase sempre estão ligados à questão do dinheiro na igreja. O dinheiro no gueto religioso é como um tabu sexual. Entretanto a grande maioria dos crentes tem empatia a uma linha de pensamento denominada Teologia da Prosperidade, na qual, basicamente se acredita que os salvos necessariamente são prósperos em bens materiais. É como se fosse uma prova externa ao mundo de que se serve a Deus que é dono da prata e do ouro. E que o crente não pode aceitar falências, prejuízos financeiros, e jamais deve-se contentar com as privações materiais. A pobreza ou privação material seria sinal de maldições, algo de ordem espiritual.
Essa linha teológica vem arrebatando milhares de pessoas, uma vez que prega a versão divina paternalista. Desde que façamos sacrifícios pessoais, abstendo-se de práticas contrárias a bíblia já estaríamos autorizados a receber toda as espécies de bênçãos materiais. Se não recebêssemos, é porque falhamos em alguma indulgência. 
Repare que o discurso da prosperidade enfoca a ação do homem em relação ao Eterno. Assemelha-se a um contrato, um verdadeiro negócio jurídico onde o ser humano se compromete a cumprir as metas bíblicas, de outro lado, Deus se compromete a nos entupir de toda a espécie de bem material.
Mas devo alertar de que não há nada de errado em ser rico, ter posses e bens. O erro consiste em acreditar que todo cristão não deve passar por privações materiais ou sofrimentos. Na verdade, a prosperidade não deveria ser a regra como se encara em nossos dias, já que em nenhum momento Jesus prometeu isso: “no mundo passais por aflições, mas tendes bom ânimo, eu venci o mundo!”.
A primeira falha dessa teoria é que ela despreza a providência redentora de Deus. Diz as Sagradas Escrituras que todos merecíamos a condenação eterna, como o apóstolo Paulo já pregava em Romanos. Mas Deus, por um ato unicamente de amor, resolveu nos salvar e nos tornar justos na figura de Cristo Jesus. De modo que, o ato salvífico do Pai se deu unicamente por iniciativa d’Ele. Sendo assim, o ser humano não possui nenhuma virtude ou bem intrínseco que o faz aproximar-se de Deus, uma vez que sua natureza adâmica é terrena e despreza o conhecimento do Eterno. Se amamos as coisas de Deus é porque primeiro Ele nos amou.
Em segundo lugar, a teologia da prosperidade erra em desprezar um fato que é a marca do cristianismo: e que se trata do sofrimento. A figura do sofrimento é emblemática desde o antigo Testamento quando Deus submeteu se povo a duras penas em 400 anos de escravidão nas Terras do Egito para só depois resgata-los de lá. Em vários textos presenciamos personagens vivendo experiências de sofrimento e privação de bens materiais, a exemplo de Moisés quando andou errante pelo deserto após fugir do Egito, ou quando Abraão sofreu ao ter que abrir mão de Isaac unicamente em obediência ao comando de Deus, ou ainda quando Jó foi verozmente atingido por Satanás dentro da permissão divina vindo a perder tudo o que possuía. Penso que essas histórias não nos foram deixadas por mero capricho de escribas. Deus simplesmente revelou essas verdades com o propósito de que sua criação andasse por meio delas.
E o que dizer então do novo testamento? E mais, o que dizer do sofrimento de Cristo Jesus, Ele que “subsistindo na forma de Deus não julgou por usurpação ser igual a Deus. Antes a si mesmo se entregou a morte, e morte de Cruz para nos salvar. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome.”
A mais humilhante de todas as histórias fora vivida pelo próprio Cristo que, ao assumir a forma humana, levou consigo os pecados e as mazelas de todo os homens de todas as eras, pagando um alto preço na Gólgota, recebendo a punição mais desprezível que um homem poderia suportar: a morte de cruz. Hoje, se Cristo fosse crucificado, certamente a cadeira elétrica e algemas seria a mais humilhante de todas as mortes.
Em termos humanos, Deus fracassou, pois se rebaixou à figura de um homem, ser imperfeito, e assumindo a forma de servo tão somente para salvar a humanidade que tanto o despreza. Penso que não existe fracasso maior para um Ser Eterno do que se revestir da mortalidade tal como foi Cristo. Isso que escrevo está chocando você?
Não fique perplexo, pois estou escrevendo nada mais nada menos do que o resumo da história da redenção. Em termos humanos, Deus se fez pobre, submeteu-se aos sentimentos humanos, suportou em sua própria pela as privações de uma família sem muitos rendimentos. Todavia, a própria Bíblia diz que “Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome” (Filipenses...)
Então, qual é o lugar da teologia da prosperidade na história do sofrimento de Cristo?
E o que dizer das experiências do apóstolo Paulo ao relatar acerca dos inúmeros casos de perseguição, privações, naufrágios, cadeias, e tudo mais quanto viveu enquanto pregava o evangelho e quando em várias passagens das cartas paulinas o mesmo teve que pedir ajuda aos irmãos por mantimentos, acolhida e orações?
E o que dizer então dos cristãos primitivos perseguidos pela guarda pretoriana segundo as narrativas do livro de Atos? E melhor, o que dizer então dos cristãos convertido nos países do oriente médio, marcados por um sistema religioso fundamentalista e anticristão que é capaz de matar quem estiver portando uma Bíblia?
Meu amigo abra sua mente e peça a Deus discernimento no Espírito Santo para a verdade das Sagradas Escrituras. Ore de coração sincero e agradeça a Deus por algum dia passar por algum sofrimento em nome do evangelho, pois como diz o próprio Jesus: “Bem aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos porque grande será o vosso galardão nos céus”. (Mateus...)