Para quem não tem medo de pensar...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Leitura intertextual entre Lenine e a revolução copernicana

Minhas crônicas passadas discorreram sobre os avanços tecnológicos e as sandices que as estrelas causam na humanidade. São reações distintas, como se fossem duas faces de uma moeda; enquanto as estrelas nos objetam curiosidade, nos instiga pensar sobre os limites do universo e da nossa atual ciência, simultaneamente, as estrelas e toda sua suntuosidade nos inquirem a elaborar misticismos absurdos.


Mas o que seria dos nossos esforços laboriosos de tentar entender o universo se este mesmo já nos desse todas as respostas prontas como uma busca de pesquisa da Google? O que seriam das fórmulas matemática complexas em demasia se todas as possibilidades previstas fossem sabidas? As estrelas e todo o corpo galáctico que nos engole são uma paixão infinita da nossa busca incessante pelos segredos dos nossos questionamentos mais filosóficos e metafísicos possíveis.


Alguns procuram entender o universo por essas fórmulas complexas, alguns outros mortais se conformam em destilar poesias e letras tão intrigantes quanto o nosso universo. Nessa crônica proponho uma interpretação intertextual da composição em parceria do pernambucano Lenine com Dudu Falcão, intitulada “O silêncio das estrelas” com os nossos atuais esforços de ciência sobre o universo.
Logo de pronto, a primeira frase da composição assim nos diz: “solidão, o silêncio das estrelas, a razão...”

A simplicidade de termos arrumados chega a ser lúdica, e me causa uma tremenda sensação de incapacidade diante da maestria do compositor em manipular a língua dentro de uma licença poética cortante.
A primeira interpretação aqui dessa frase parte da primeira ideia orgulhosa de que temos a sensação de estarmos sozinhos nessa infinitude universal. Já que até hoje as nossas sondas e nossos satélites ainda não obtiveram “feedback” de possíveis seres extraterrestres é bem provável que estejamos sozinhos, solitários, sem salvação além de nós. As estrelas apenas brilham, nada dizem sobre o nosso passado de forma satisfatória, a não ser sobre o nosso futuro, já que o sol também é uma estrela, e todas as estrelas tendem algum dia a explodirem, é provável que tal fato ocorra com o nosso astro. Uma dedução até simplista, mas há cientista que calculam essa possibilidade.



Em outra frase da mesma canção assim diz: “eu pensei que tinha o mundo em minhas mãos, como um deus amanheço mortal”. A humanidade até a derrocada do sentimento de centro do universo que a teoria de Ptolomeu e os escolásticos defendiam sustentava durante a Idade Média acreditava piamente na superioridade humana pelo fato de se localizarem ao centro de tudo, e ao seu redor orbitando o sol. Pensávamos que tínhamos o mundo em nossas mãos; até o instante em que após cálculos e estudos astronômicos revolucionário de Copérnico e Galileu posteriormente a nossa centralidade é destronada, e heliocentrismo comprovado cientificamente. De repente, “não mais que de repente”, a humanidade se vê tão igual ou inferior a um deus mortal desses das mitologias gregas. Era como se dormimos sabedores de que somos únicos e tão superiores que o a maior das estrelas orbita em nossa volta; de repente descobrimos que possivelmente nessa infinitude toda não devemos ser pretensiosos a tal ponto de pensarmos isso, sem falar que há ainda 4 escalas maiores de sóis em relação ao nosso quinto colocado astro.


Mas a ciência cumpre bem o seu papel, no sentido de manter viva a necessidade de busca pelo conhecimento; conforme o compositor expressa “o que é que eu procuro afinal?”. E nessa sina, a humanidade canaliza seus esforços tecnológicos e toda sua ciência em torno dos segredos que emana das estrelas.
Ainda sim, prefiro refletir na beleza poética e inquestionável das artes enquanto a ciência não pode nos responder mais além daquilo que as imagens de satélites podem dizer.

5 comentários:

Guilherme disse...

Ótimo texto velho, deixo só uma dica posta um link para a letra da música para que o leitor possa se situar melhor em sua interpretação desta. Te enviei os logotipos que me pediu, curtiu nenhum não?

Unknown disse...

“solidão, o silêncio das estrelas, a ILUSÃO" Não razão!!

Unknown disse...

Desde o início a letra retrata a formação de identidade baseada na melancolia (conceito psicanalítico) de um indivíduo marcado pela busca de seu eterno objeto perdido. Tal perda agrava-se ao longo de sua existência, o fazendo encontrar nos astros celestes, esses inalcançáveis objetos idealizados um pouco de conforto... A cisão com a realidade(psicose) também se apresenta como expectativa de alcançar este objeto!

Unknown disse...

A arte sempre foi na história do homem uma vida primordial de acesso aos conteúdos inconscientes...

Unknown disse...

Também em relação aos conteúdos simbólicos, os signos partilhados pela linguagem, seja ela científica ou poética, são apenas um meio para a decodificação de algo. Sempre é a busca por algo que influencia o homem!