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sábado, 24 de abril de 2010

TV brasileira: a caixa de pandora

Na mitologia grega conta-se a origem dos malefícios, pestes e desgraças do mundo à partir da abertura de uma caixa hermeticamente fechada criadas pelos grandes deuses do Olimpo: a caixa de pandora. Os gregos foram brilhantes não somente por criarem as instituições políticas das quais nós ocidentais herdamos. Mas também pelo fato de terem pensado e discutido temas em literaturas clássicas que reverberam nos bancos das academias e nas teses de mestrando e doutorando. Sem obviamente preverem as possíveis interpretações que nós leitores daríamos a “caixa de pandora”, os gregos nos emprestam uma termo que sob a forma metafórica equivaleria ao que alguns chamam de “tubo de elétrons” ou se quiser, Televisão brasileira.



Nos contos gregos havia um pano de fundo de divisões entre mundos, ou melhor, dizendo, de distância ou abismo entre o mundo dos homens, seres mortais deficientes e vulneráveis em relação aos habitantes do mundo divino composto por seres imortais. A caixa de pandora seria uma resposta ou conseqüência da relação complicada e delicada entre criadores e criaturas. Na verdade, os gregos introduzem um questionamento quanto à origem das coisas, inclusive, a origem das dores ou dos “males” do mundo; e tal questionamento levanta dúvidas quanto à origem dos males: seria esta origem vinda de fato de seres sobrenaturais ou das próprias ações humanas? O que corresponde dizer: a culpa do mal que há entre nós vem dos deuses ou de nossas próprias ações. Não á toa que o pensamento grego introduz na cultura ocidental hipóteses de explicação não fundadas nas autoridades divinas.
Então pergunto: a TV brasileira (a qual aqui comparo à caixa de pandora da mitologia grega) seria uma conseqüência do aborrecimento dos deuses ou das próprias ações humanas? Nem preciso responder!


Dentro das casas de milhões de brasileiros, é bem provável que falte uma vitrola, ou um supercomputador ligado a uma internet rápida, uma pequena prateleira com livros velhos; mas provavelmente este aparelho tão cultuado pela cultura moderna, a televisão, não faltará. Desde as favelas às grandes mansões, condomínios fechados e apartamentos abarrotados das grandes cidades há uma antena que interliga o brasileiro a uma programação televisa de qualidades questionáveis. Não discuto aqui sobre a seriedade com quem muitos que estão envolvidos com as mídias televisivas levam o seu trabalho. A crítica é supra quanto ao dito anteriormente; a minha crítica na verdade é um desabafo.



Não há dúvida que uma TV cuja grande parte de sua programação, em torno de 80 % está destinada ao entretenimento só traz tantos malefícios quantos aos da caixinha de surpresa grega. Os horários nobres das programações televisivas não optam em passar documentários ou programas de debates críticos de discussão de finalidade educativa. Ao contrário, a nobreza da programação da TV aberta no Brasil estar em divertir o trabalhador e a trabalhadora brasileira que depois de exausta e frustrada após uma alienante rotina de trabalho explorador com notícias não explicativas e dramaturgias repletas de pessoas felizes, rostos bonitos, carros do ano; ou seja, tudo àquilo que vai de encontro com os anseios da grande massa. A programação televisa, quando não incita ao questionamento aberto e franco, e, ao contrário, insiste em programações de entretenimento ela está na verdade funcionando como uma grande caixa de pandora em nossas salas.

A maior das pestes da vida moderna neocapitalista não foi somente o trabalho repetitivo e alienante das grandes fábricas e suas engrenagens, mas a preguiça de pensarmos. É bem provável que o entretenimento sirva como uma válvula de escape das emoções humanas e que nos seja útil em determinadas situações. Porém, “nem só de pão viverá o homem”, e também nem só de circo. Hoje o que se vê é uma programação insípida de conhecimento e cultura gerais. O que me leva a entender e assim escrever é que o brasileiro foi amaldiçoado pelas pestes negras que saltam do tudo de elétrons, íons, prótons, LCD, de plasma, enfim. A TV brasileira é tão nociva e viciadora quanto que um alucinógeno pesado.

Um comentário:

Guilherme disse...

Concordo em genero, numero e grau.

Infelizmente nossa tv (que não difere muito das matrizes de 1º mundo, pois delas copia e re-copia) tem como sinteses "coisas" como Big Brother; Zorra Total; Gugu; Malhação, e muitos eteceteras mais. Ou seja, ela não mais procura disfarçar a que veio.