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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Prometeu: entre o trágico e o cômico

O trágico e o cômico são elementos que compõe a mesma moeda da representação teatral. Ambas tratam dos pontos extremos da personalidade humana. Os grandes clássicos gregos souberam muito bem, cada um a seu mister trabalhar essas duas perspectivas de representação da realidade.

Em um desses clássicos, Ésquilo expõe de forma magistral a tragédia de um deus acorrentado; Prometeu que fora penalizado pelos grandes seres imortais é personagem central da narrativa trágica. A sua penitência eterna foi um ato dos deuses, conseqüência de sua postura astuta, ousada e apaixonante. Preso no alto de uma rocha escarpada exposto a uma ave de rapina que cotidianamente bicava seu fígado – órgão de alto poder de regeneração, Prometeu simplesmente fora punido por ter amado demasiadamente os mortais: “tudo isso porque amei os mortais...”


A tragédia de Prometeu é um clássico que denota de modo singular a relação emblemática entre deuses e homens. Mas penso que ninguém prestou atenção para alguns detalhes intrínsecos a esta punição. A finalidade de ser da punição está na sua natureza onerosa. Não importa que seja por correntes, por açoites, privação da liberdade de ir e vir, por pagamento por multa, enfim. A punição poderá ser a das mais simples, desde que venha a ser onerosa ao sujeito que as recebe. O exemplo disto, as punições, dentre todos os sistemas de punição conhecidas sempre visam atingir bens imprescindíveis à vida humana no geral.


Ao contrário das punições humanas, a punição de Prometeu não visava à privação de um bem necessário à sua natureza divina. Prometeu era um deus, portanto, imortal e imune às punições próprias dos seres mortais. O que equivale a dizer: qual o sentido da punição de pena de morte a um deus cuja natureza é imortalidade? E muito menos, qual a razão de ser da punição dos deuses do Olimpo em colocá-lo dependurado numa corda junto a uma rocha escarpada exposto aos importunos de uma águia que atacava justo um dos órgãos de maior capacidade regenerativa. Na verdade, talvez os deuses do Olimpo quisessem apenas causar nos humanos certa temeridade ao punir um deus que mesmo sendo parte dos seres imortais não escapou do destino punitivo. Talvez os imortais do monte Olimpo desejassem somente àquilo que as normas penais pretendem nas sociedades humanas: a de causar a repulsa social.
Os gregos venderam ao mundo uma história cômica sob a capa de uma tragédia.

Um comentário:

Guilherme disse...

Cara, leitura legal, parabens velho...só deixa de preguiçaa e vamos movimentar esse negocio aqui...muito parado! heheheh

Voce tinha dito que nao tava conseguindo acessar o bibliotecario: http://bibliotecarioto.blogspot.com/