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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Brasileiro não gosta de biscoito fino

Não meus caros leitores, não pretendo fazer desse blog uma cozinha à Olivier cheia de receitas exóticas e pratos saborosos. Mas prometo ser a leitura um tanto quanto "saborosa" quanto foi o biscoito do qual agora me refiro.
Era o início do século XX, marcado por grandes trasnformações políticas, econômicas, sociais e artísticas no Brasil. Início dos anos da jovem república brasileira, marcada pelos dominíos latifundiários, do poder político local dos coronéis, das barganhas e troca de favores entre presidentes e governadores, de mudanças estéticas e ideológicas na capital cosmopolita brasileira - Rio de Janeiro; eram tempos de avanços na medicina e nas políticas públicas higienistas do país com vacinas e "caça às bruxas" dos insetos e mosquitos transmissores de doenças. Eram tempos de tensão permanente entre elites abastardas, classe média urbana industrial e uma camada gorda de operários que acompanhava o crescimento de indústrias e fábricas nacionais.
Eram tempos também de mudanças na economia mundial que já fia se arrastando desde o Crack da Bolsa de Nova Yorque em 1929; da queda dos preços do café que abastecia os empreendimentos modernistas das principais cidades brasileiras. Eram épocas memoráveis, fervilhantes, tanto em escala nacional quanto que na escala internacional. Tempos de guerras, de novas fronteiras européias, de uma nova super potência - EUA; de revoluções soviéticas e de uma nova forma de governo baseado na extinção da propriedade privada. Nascim assim, ao longo das primeiras décadas do século XX fatos inseparáveis do cenário mundial. Muito daquilo que foi desconstruído ao final do séxulo XX teve registro de nascimento em sua aurora.
Enquanto isso, no cenário artístico nacional, a elite paulista reunida em seu apoteótico salão de culto à produção cultural da época, o Teatro Municipal, assistia "bestializada" as obras de escritores, escultores, pintores e músicos brasileiros dispostos a romper com todo o academicismo estrageiro que flutuavam sobre a produção cultural brasileira. Nomes como Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Villa Lobos, Mário de Andrade, dentre outros arrombam a noite paulistana e sua "paulicéia desvairada" inauguram uma expressão artística sem formalismos, com linguagem solta e despreocupada com barroquismos e pedantismo tão comuns na arte inpirada no academicismo e nas prosas e poesias parnasianas importadas dos moldes intelectuais europeus.
Embora a proposta fosse visceralmente cortante com todas os outros laços e influências culturais que não sintetizavam um singular Brasil, o público não reagiu com ares de amores. Justamente em face eu digo: o brasileiro não consome biscoito fino, apenas "bolachas" importadas !!!

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