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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Ainda somos pobres

Não nos faltam reportagens, notícias e hiper-textos em todos os tipos midiáticos disponíveis como internet, jornais, revistas, televisão e outros ressaltando os pontos positivos da economia brasileira. Parecem que os números dos estatísticos nunca foram tão favoráveis ao status economicus brasileiro. Adentramos o século XXI dentre as 10 maiores potências do mundo - 8º para ser mais exato -; somos uns dos maiores exportadores de diversos gêneros alimentícios; nossos parques industriais despontam entre os mais complexos e mais diversificados do planeta. Nas ruas e no cotidiano tupiniquim respiramos os ares de uma cultura industrializada; até pouco tempo ainda importávamos made in Estados Unidos, hoje, nós é que exportamos comida. E não somente isso, agora exportamos tecnologia aeronáutica desenvolvida dentro dos nosso institutos tecnológicos. Até poucos anos atrás ainda dependíamos em peso das "cabeças inteligentes" dos países estrangeiros. Hoje os "cabeças inteligentes" são os brasileiros. Até astrounautas já conseguimos mandar para espaço. Agora pouco o presidente da República em horário nobre noticia aos brasileiros sobre os feitos heroicos do governo em tempos de crise financeira em função das especulações imobiliárias.

Boas notícias não nos faltam. Mas não são suficientes para esconder o atraso e a complexidade de um país onde convivem em uma mesma perspectiva o novo e velho, o moderno e o tradicional, o retrógrado e o progresso. Na vanguarda dos estudos de antropologia brasileira, o pernanbucano Gilberto Freyre sintetiza a causa que o levou a escrever uma das obras mais clássicas do gênero: Casa Grande e Senzala, no qual ele procura descobrir o Brasil analisando a matriz econômica primitiva da estrutura social brasileira. Segundo ele, muitas das respostas sobre o comportamento e a economia brasileira são frutos dos tempos das grandes explorações canavieiras. Hoje, eu procuro fazer o mesmo. Quer dizer, tento analisar o país não na perspectiva ou um plano exacerbadamente otimista e quase ufanista à maneira romântica de Gonçalves Dias, mas, realista, aproximando-se do irônico. Conforme dito, de boas notícias os jornais andam cheios, quase à pino.

O Brasil se aprensenta hoje entre os países mais desiguais do planeta. A distribuição da renda, ou seja, a divisão do bolo ainda ainda está longe de saciar a fome da esmagadora maioria pobre.
Segundo os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) apenas 1 % dos brasileiros mais ricos detinham em sua posse equivalente ao ganho dos 50 % mais pobres.
Tudo bem. Chega de números. Mas às vezes precisamo deles para advogar em causa própria.

As cidades brasileira que mais crescem são exatamente as grandes capitais onde está concentrada a maior parte do PIB nacional, o que demonstra a irracionalidade do crescimento. A maior parte desses brasileiro que migram de suas cidades vão em busca de oportunidades. Infelizmente quase todos se situam à margem.


Contudo, não é apenas por dinheiro é que se mede a pobreza das pessoas. Somos pobres em diversos aspectos. Somos pobres na cultura musical quando elegemos como músicas preferidas àquelas que não se utilizam de harmonia ou melodias mais complexas - à exemplo o Funk, e diga-se nesse ínterim também o desprezo e o deboche que as massas fazem ao erudito ou à música raíz.

Somos pobres na cultura literária quando, estando entre os dez mais ricos do mundo somos o país que menos lê ou gasta com livros durante o ano.
Brasileiro é pobre porquê preferem "bolachas" ao biscoito fino de Oswald de Andrade. Somos pobres por quê somos brasileiros ou somos brasileiros porquê somos pobres?
Quando essas duas qualificações - brasileiro e pobre - se divorciarão?
Por enquanto, não sabemos do futuro. Aliás, não sabemos de nada. Tudo o que sabemos, já dizia o filósofo grego é que não sabemos mesmo.
















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