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quarta-feira, 17 de junho de 2009

Memórias políticas de menino...

Memórias em Fronteiras dos Vales.

Ao passear pelas bandas da pequena cidade limítrofe entre os vales de Jequintinhonha e Mucuri chamada sugestivamente de Fronteira dos Vales me deparei com o velho passado dos tempos de menino infante e peralta que ali vivera em mim. Foram tempos áureos.
Tempos bons porque para todo menino de oito anos de idade as férias de fim de ano eram os dois meses mais esperados do ano inteiro. Ainda me lembro de um desenho feito à lápis à pedido da professora da 1ª série cujo objetivo da atividade seria representar no papel as lembranças mais inesquecíveis de todas as férias. Pois bem, ainda guardo na memória as exatas linhas daquela arte desenhada. Eu sentado em uma pedra à beira de um riacho lá em Fronteira dos Vales denominado “córrego novo”, olhando para baixo vendo meus amigos, companheiros de peraltices, paixões platônicas, todos molhados e alegres.
Enfim. Lembranças daquelas bandas. O que na 1ª séria me pediram para fazer em desenho, hoje, aqui vou tentar desenhar da mesma forma essas tais lembranças, só que em forma de palavras.
Fronteira dos vales resguarda dentro de mim, dentre várias memórias, imagens das festas tradicionais do folclore local que ocorriam no mês de Janeiro. A festa chamava-se “Boi Janeiro” e consistia em um arrastão de pessoas pelas ruas de pedra da simplória cidade atrás de um boi feito à madeira com panos pintados suportados pelos ombros de um sujeito que, imagino eu, deveria ser bem forte. No cortejo do boi pela cidade músicos à frente com violões, batuques, triângulo e um acordeão. Em volta os curiosos, e dentre a maioria desses curiosos os meninos e meninas. Mas o fato que mais nos prendia àquela festança toda era as velozes avançadas do boi sobre a multidão.
Aquilo me fascinava porque era perigoso e ao mesmo tempo divertido. A multidão era obrigada a prestar atenção a todo instante para não correr o risco de ser atacada pelo infame animal de madeira. Mas no fundo eu sabia que tudo aquilo não passava de uma festa.

Outro fato do cotidiano fronteirense que me vem à mente é a rivalidade política. Penso eu que não outro lugar no mundo em uma democracia que seja mais fácil de tomar um partido do que em Fronteira dos Vales. Vou explicar por quê. A política local desse pequeno município costuma ser dividida não com ênfase nos partidos legalizados como PT, PMDB, PSDB e outros “pés” e “bês”, mas sim, em pés rachados e pés lisos. A divisão é simples. Os pés rachados são àqueles conhecidos pelo esforço no trabalho. São trabalhadores ávidos e incansáveis, e por isso, apelidados de pés rachados. Já os pés lisos são àqueles acusados pelos pés rachados de não trabalharem, de serem preguiçosos engenhosos e bons para ganhar dinheiro sem esforço, isto é, duas filosofias bem claras e distintas uma da outra. Nesse caso, a política fica tão fácil de ser assimilada que as crianças desde novas são influenciadas pelos pais a tomar um desses partidos. Por tão fácil e interessante era tratada a política nesta cidade que certa feita quando entrava na maturidade eleitoral cheguei a pensei seriamente em mudar o meu domicílio eleitoral para Fronteira.
Obviamente, eu jamais cheguei a votar lá, mas de qualquer modo, não me esqueço da pedagogia política que esses grupos rivais os pés rachados e os pés lisos me ensinaram. E ser quiseres saber caro leitor, tal rivalidade perdura ainda no tempo após 20 anos de Constituição de Estado democrático de Direito.

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