Essa crônica é uma visão crítica que atende a dois campos
de interesse muito comuns: a música e a espiritualidade. Se você gosta de um ou
de ambos, fique à vontade e deleite-se com essas elucubrações da mente.
A música é uma manifestação
cultural muito rica, e talvez, a que mais pode explicar porque tantos seres
comuns (humanos) encaram o mesmo dado da realidade por óticas variáveis.
Existem povos que faziam suas próprias canções como fruto de suas vivências e
contextos sociais, religiosos, políticos e econômicos. Um grande imperador da
China já dizia que a nação é aquilo que ela escuta (imaginem então como é
Brasil?!).
A música é, das artes, a que
talvez mais deixe rastros na mente humana – estudos científicos já demonstraram
as partes do cérebro que são fortemente marcadas ao som da música. Outros
estudos também já atestaram como determinados sons afetam até a qualidade de
vida de seres vivos como plantas e animais.
Mas o que proponho nessas
reflexões é: até que ponto em nome da boa música é preciso escutar determinados
artistas com suas letras apologéticas e intenções espirituais? Ou seja, sabendo
que a música é um carro chefe para disseminar teorias, costumes, pensamentos,
enfim, como separar a musicalidade das intenções “teológicas” dos seus autores?
Para quem conhece a música de
Vercilo e o acompanha desde o seu primeiro disco sabe do que passo a escrever
aqui.
Em discos passados, Vercilo
cantava a respeito de aventuras amorosas, tais como “Monalisa”, “Que nem maré”,
onde atingiu seu ponto alto na carreira. A musicalidade é indiscutível em
termos de afinação, arranjos musicais e um timbre vocal reconhecível a
megabytes de distância. Os críticos profissionais em muitas ocasiões já
esbaldaram-se em elogios para se reportarem à música de Vercilo. Durante
estudos e músicas da MPB que acompanhei, Vercilo era um nome sempre falado.
Acontece que de uns tempos para
cá Vercilo fez a sua boa música uma plataforma de teorias e teses duvidosas. Na
letra da música “Verdade Oculta” o mesmo diz de forma livre que “Se tudo é
divino, tudo em Deus tem seu lugar”. Essa canção ainda faz alusão ao “deus
menino nascido na Galiléia”, a quem o mesmo queria falar de Cristo Jesus – que
na verdade é Deus com “D” maiúsculo, diga-se de passagem. E na mesma sentença
iguala Cristo ao príncipe hindu, a um oxum, afrodite, e outras manifestações
religiosas.
É claro que do ponto de vista da manifestação artística, de fato
todas essa sentenças têm o seu lugar, desde que se parta do pressuposto que a
arte dos homens, distantes da graça de Cristo, é mero reflexo da decadência
espiritual dos mesmos. Obviamente, em um Estado democrático de Direito onde a
república é inspirada pela laicidade estatal, e pela liberdade de cultos e
crenças, claro que não há nenhum erro em sua música, pois ele está simplesmente defendendo seu posicionamento religioso - que é pessoal.
Porém, o erro encontra-se na
crítica indireta que suas letras sugerem. E como bom crítico e, embasado na
liberdade de pensamento, sinto-me habilitado a tecer essas considerações, já que essa é a tarefa do Apolegeta Cristão: desembaraçar as vãs filosofias dos homens à luz das Escrituras.
Mais recentemente em seu último
disco – Como diria Blavastky – o artista simplesmente faz referência a Helena
Blavasty – uma russa do século XIX responsável por ser a mente pensante de uma
corrente religiosa denominada Teosofia ou Sociedade Teosófica.
No estudo das religiões o nome
disso é pan-religiosidade, ou para nós brasileiros mais comumente aceito como
ECUMENISMO. A miscelânea religiosa é latente para os entendidos, mas sorrateira
para os não esclarecidos. Muitos, inclusive eu, já passei pela música do
Vercilo sem refletir na intenção dessas letras. Ocorre que nesses dois últimos
trabalhos lançados, a defesa religiosa vem sendo escancarada em suas letras, o
que me leva a deduzir com argumentos sólidos que o artista tem feito de sua
música com outras intenções, não se limitando a fazer a boa música em si.
Essas considerações são apenas
ensaios. Para quem muito já escutou suas letras e músicas, especialmente se for
cristão, leve tais considerações mais a sério.
Saudades dos tempos em que os
músicos faziam da música uma bela e simples expressão do artista sem pretensões
anti-cristãs. Saudades dos tempos em que se cantava sobre a garoa fina que caia
sobre a cidade, ou sobre o barquinho à vela rumando no mar, perdendo-se na
metáfora poética do belo e do perigoso, ou até mesmo de um cara abandonado à praça da cidade chorando de dor pelo amor perdido.
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