Existem lugares que marcam nossa memória de uma forma
diferente. Não é como as fórmulas de álgebra que decoramos para passar de no 8º
ano (quem não se lembra da fórmula de Báskara na qual uma raiz será sempre 0 e
a outra será “–b” sobre “a”???). Ou, quem por anos a fio não escutou a velha
história do descobrimento do Brasil e dos habitantes primitivos e sua nudez
incompreensível aos portugueses?
Não me refiro a esse tipo de
memória, porque na maioria de nós essas memórias só foram guardadas unicamente
com a finalidade instrumental de aumentar conhecimento, tirar 10 na prova e
assim conseguir um bom emprego no futuro, impressionar as pessoas, etc...
Eu me refiro àquelas memórias
inúteis, tais como quando passamos pela rua em dias de chuva após um tempo
quente e sentimos o cheiro de terra molhada que imediatamente cria um link em
nossa mente, nos remetendo a uma cena do passado. Ou quando ainda voltando do
trabalho um cheiro de fermento oriundo da padaria invade as narinas nos fazendo
lembrar imediatamente das tardes de sábado quando a mãe fazia seus deliciosos
pães caseiros.
Essas memórias são inúteis, pois
não nos diz como passar nas provas de concursos públicos ou vestibulares. Muito
menos nos dão prognósticos seguros do crescimento econômico de nosso país, ou
sequer nos ensinar a conquistar uma garota através de um Manual ou “Know How”.
Muito embora inúteis, são eternas. Transpassam o tempo, e nos fazem lembrar de
como nos dias de hoje damos mais valores ao efêmero e passageiro.
Quando olho para meu pequeno
pedaço de mundo, qualquer olhar que não seja o do poeta viria mais uma cidade
pequena, esquecida ao nordeste mineiro, banhado pelo menor dos afluentes do rio
que ainda corre muito até chegar ao mar. Um lugar quase sem utilidade para o
resto do mundo, sem significado nenhum para o planeta terra e seu cosmo
infinito. Região esquecida e sem importância decisiva para a história do país.
Mas para mim, é a própria poesia
concretizada e reencarnada em um misto de natureza e ação antrópica. Lugar que
representa as primeiras experiências da infância, dos primeiros desbravamentos
naturais. Foi quando os meus sentidos começaram a, por prazer e amor, descobrir
o mundo em minha volta.
Agradeço a Deus por fazer parte
de uma terra distante e esquecida dos grandes centros, e ainda, pouco distante
das agitações e dos holofotes. É o mesmo sentimento do escritor inglês J.R.
Tolkien ao descrever o condado – a terra de Frodo e seus amigos Hobbits – que
na sua pequenez e insignificância continuava alheia aos terríveis perigos e
ameaças que enfrentava a Terra Média.
Pois bem, o meu pequeno pedaço de
mundo é isso: uma pequena porção de terra insignificante, encravada entre o sul
do início do Brasil colonial (Bahia) e nordeste da Primeira Revolta republicana
das Minas de Inconfidentes. Terra esta que satisfaz somente o sentido e alma
daqueles a quem consegue poeticamente enxergar sua graça.
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