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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Aos amantes da Telecartofilia

Telecartofilia para os iniciados seria a arte de colecionar cartões telefônicos. Um hobby interessante e apaixonante. De passatempo dos tempos de molecagem até colecionador profissional; a arte de colecionar cartões tem vários níveis de coleção. Hoje em dia é possível ainda encontrar em feiras stands de vendedores e cartões aos montes em cidades de porte médio pelo Brasil. Os colecionadores brasileiros estão entre os mais aficcionados pelo colecionismo de cartões em especial.


Há pelo menos uns 14 anos eu coleciono cartões. No início era mais um desses hobbies sem compromisso, como se fosse uma febre, nada diferente da febre dos álbuns de figurinhas de super hérois ou coleção de bolinhas de gude. Porém, de um passatempo banal a coleção de cartões foi ganhando seriedade. Passou a ser vício. Não dormia uma noite sequer sem fazer aquele ritual sagrado da contagem e admiração dos cartões, e para completar aproveitava para rearrumar os mesmos dentro dos plásticos de polietileno. E cada ritual novas arrumações, novos critério surgiam para a recolocação das preciosidades. À partir da minha coleção desenvolvi a arte da barganha e da troca comercial. Para os colecionadores os cartões adquirem valor pecuniário de acordo com os critério da tiragem, dificuldade de localização, beleza da arte, estado de conservação etc. Era de fato uma verdadeira arte. Muitos colecionadores são como empresários e tratam a arte da coleção como uma empresa a ser gerida com garra, ousadia, desejo de lucro e aumento patrimonial. Cada novo cartão era sinônimo de mais valia ao produto. Alguns moleques amigos meus eram tão aficcionados pelo colecionismo de cartões telefônicos que gastavam todas os centavos de mesada que ganhavam dos pais em compra de cartões. Aliás, me incluo também neste rol. E quem anda dizendo por aí que crianças não possuem vício? Pois bem, os cartões telefônicos fez parte de um capítulo da minha infância obssessiva pelos mesmos. A coleção de cartões era tão interessante que o prestígio e o status do moleque na roda de amigos dependia também da quantidade de cartões que possuíam em sua coleção. E se tivesse fortuna até uma admiradora secreta era possível arranjar.


Hoje em dia, confesso amarguradamente que a telecartofilia está em crise. E não há de se esperar outra situação. As empresas de telecomunicações estão investindo pesado em telefonia móvel há pelos menos 10 anos. Desde então a demanda pelo uso dos Telefones públicos vem diminuindo vertiginosamente e consequentemente a diminuição do número de cartões na praça. Outro fator para esta crise está ligada a ausência de incentivo cultural em função do investimento em propaganda. Hoje em dia os cartões telefonicos da maior empresa de Telecomunicações do país veiculam propagandas e informativos dos serviços disponíveis aos consumidores. Não há mais aquelas artes pintadas, fotografadas, enfim. Não existe mais interessem em cartões telefônicos em função da banalização do comércio. Obviamente nossos sentidos não são eroticamente despertados pelas figuras dos cartões atuais simplesmente por que não existe arte. A arte foi abolida dos cartões.


Graças à comodidade e facilidades da internet é possível encontrar em blogs e redes de relacionamento um remascente fiel ao telecartofilismo e deste modo manter o acervo de cartões em dia, alem de matar a saudade dos velhos tempos. Tempos nos quais os cartões eram arte, cultura, informação e beleza. Era possível conhecer animais, lugares, cidades, Estados,pessoas, histórias e até países através dos cartões telefônicos. Os cartões traziam em si uma riqueza que somente nós os colecionadores conhecemos. Estou certo de que devemos ao mundo um Museu dos Cartões Telefônicos onde todas as obras primas e raridades poderiam estar expostas ao mundo todo.

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